► Questão:
A falta de citação dos confinantes gera nulidade absoluta ou relativa em processo de usucapião?
A exigência de citação dos
confinantes ia ao encontro da finalidade secundária da sentença declaratória da
usucapião, qual seja, promover a demarcação de terras. De fato, a sentença que
reconhece a prescrição aquisitiva põe-se a demarcar a área usucapida. Mas não
apenas isso. Ainda que implicitamente, ela demarca também a dos imóveis vizinhos,
contíguos, confinantes.
Com o advento do CPC-2015,
todo o rito especial da ação de usucapião de terras particulares foi revogado
(art. 1.046, caput), salvo por uma única regra: a da citação dos confinantes.
Assim, eis o teor do art.
246, § 3º, do CPC está a dispor:
Art. 246...............
§3º Na ação de usucapião de imóvel, os confinantes serão citados pessoalmente, exceto quando tiver por objeto unidade autônoma de prédio em condomínio, caso em que tal citação é dispensada.
Questão interessante consiste
em saber se a não citação do confinante seria causa suficiente para a arguição
de nulidade absoluta. Mas, para resolver essa interrogante, é preciso recordar
antes um pouco dos conceitos do sistema de invalidades no processo civil.
Como é sabido, no plano
processual do sistema de invalidades, a nulidade constitui o vício que macula o
ato procedimental que é praticado com inobservância de um determinado requisito
de validade. Esse desrespeito à forma prevista em lei pode acarretar o
surgimento de dois tipos de nulidades: absoluta ou relativa. Na primeira, ocorre
a não observância da forma prescrita em lei por força do interesse público; na
segunda, dá-se o mesmo movimento, porém, contra forma instituída no interesse
das partes. Ademais, enquanto a nulidade absoluta pode ser decretada de ofício pelo
juiz a qualquer tempo no curso do processo, a relativa fica a depender de
alegação da parte interessada na primeira oportunidade em que lhe couber falar
nos autos, sob pena de preclusão temporal (CPC, art. 279, caput).
No caso concreto que chegou
ao STJ por meio do REsp 1432579, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG),
ao analisar apelação contra sentença que reconheceu a usucapião de imóvel rural
no interior do estado, decretara de ofício a nulidade decorrente da
inexistência de citação dos cônjuges dos vizinhos.
No entanto, não foi esse o
entendimento abraçado pelo STJ. Diversamente do tribunal mineiro, o Tribunal
Superior, nos autos do REsp 1432579, acolheu a posição segundo a qual, posto
que seja recomendada a citação dos confinantes e seus respectivos cônjuges, o
vício decorrente da sua ausência do ato citatório não é causa de nulidade
absoluta do processo. Por outras palavras, o STJ entendeu que a falta de
citação dos confinantes configura mera nulidade relativa.
A consequência prática desse
posicionamento para a parte interessada é dupla: de um lado, se a nulidade não
for arguida em tempo hábil, precluirá; de outro, terá de desincumbir-se do ônus
de comprovar o prejuízo sofrido com a nulidade apontada. No caso específico dos
processos de usucapião, o prejuízo diz respeito à defesa dos limites da
propriedade confrontante, porquanto toda a sentença de usucapião possua, além
da finalidade precípua de declarar a aquisição originária da propriedade pelo
decurso do tempo, uma finalidade secundária, sub-reptícia, de caráter
demarcatório (pretensão delimitatória contra os confinantes).
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